quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

AS ÁRVORES E OS LIVROS

O autor deste poema é Jorge Sousa Braga,poeta e médico português.
Já casado e pai de dois filhos,dedicou-se ao estudo e à consulta de casos de esterilidade/infertilidade.
Tinha apenas oito anos quando escreveu o seu primeiro poema,uma espécie de homenagem ao então futebolista Eusébio,um dos seus ídolos de infância.A partir dos 14 anos,começa a escrever,consciente de que a poesia começara já a fazer parte,de forma intrínseca,da sua vida.

                                  ( in Infopédia-resumo)


 As árvores como os livros têm folhas
 e margens lisas ou recortadas,
 e capas(isto é copas) e capítulos
 de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis,histórias de fadas,
 as mais fantásticas aventuras,
 que se podem ler nas suas páginas,
 no pecíolo,no limbo,nas nervuras.

 As florestas são imensas bibliotecas,
 e até há florestas especializadas,
 com faias,bétulas e um letreiro
 a dizer:«Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
 no teu quarto,plátanos ou azinheiras.
 Para começar a construir uma biblioteca,
 basta um vaso de sardinheiras

   Jorge Sousa Braga,Herbário

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

UM LIVRO NA SALA DE VISITAS


O autor é Manuel Alegre,que estudou Direito na Universidade de Coimbra,onde foi um ativo dirigente estudantil.Foi campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra.
Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.
Passa dez anos exilado em Argel,onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional.
Os seus dois primeiros livros,PRAÇA DA CANÇÃO(1965) e O CANTO E AS ARMAS(1967) são apreendidos pela censura.

Quando eu era criança,lembro-me de ver na minha casa e nas casas de pessoas de família ou amigos,normalmente na sala de visitas,um livro grande,encadernado,que se destacava de todos os outros.Nem sempre era da mesma cor,mas em todo ele havia o desenho de um homem com uma coroa de louros na cabeça e uma pala num olho.Um dia perguntei que livro era.
-Este livro chama-se Os Lusíadas,é o nosso livro-disse meu pai-,o livro dos portugueses.Foi escrito por Luís Vaz de Camões,o maior poeta português,acrescentou,apontando aquele homem de um só olho.
Às vezes abria o livro e lia para eu ouvir.
Acabei por saber de cor os primeiros versos,antes mesmo de aprender a ler:

 As armas e os barões assinalados
 Que da ocidental praia lusitana
 Por mares nunca dantes navegados
 Passaram ainda além da Taprobana,
 Em perigos e guerras esforçados
 Mais do que prometia a força humana,
 E entre gente remota edificaram
 Novo Reino,que tanto sublimaram;

Eu não sabia o que aqueles versos queriam dizer,mas gostava da música,uma música que para sempre ficou no meu ouvido.Mais tarde ensinaram-me que a «ocidental praia lusitana» é Portugal, «os mares nunca dantes navegados»,aqueles mares que eram desconhecidos até as naus portuguesas terem revelado o seu segredo,«Taprobana»,o nome antigo dado por gregos e romanos à ilha de Ceilão,atual Sri Lanka,e o«Novo Reino»,aquele conjunto de terras onde os portugueses foram chegando e acabariam por constituir o império português.

                Manuel Alegre, Barbi-Ruivo,o meu Primeiro Camões

sábado, 12 de janeiro de 2013

BALADA DE NEVE

Outro poeta português que julgo não ser muito conhecido internacionalmente é AUGUSTO GIL,natural do Porto.
A sua poesia,segundo Esther Lemos,caracterizava-se por uma atmosfera sentimental,mista de complacente e serena bondade.
Para mim,esta balada é de um encanto raro.

Batem leve,levemente
como quem chama por mim
Será chuva?Será gente?
Gente não é,certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco,há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate assim,levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve,mal se sente
Não é chuva,nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver.A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve,branca e fria...
-Há quanto tempo a não via!
E que saudades,Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto,por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos,doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro bem definidos,
depois,em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos,enfim!
Mas as crianças,Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza
uma funda turbação
entra em mim,fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
-e cai no meu coração.


AUGUSTO GIL,in Luar de janeiro

sábado, 5 de janeiro de 2013

POEMA DE CESÁRIO VERDE

Como os blogues são vistos por pessoas de várias nacionalidades,entendi por bem,antes de postar os meus escritos,dar a conhecer ao mundo alguns dos bons poetas portugueses mais esquecidos.
Segundo J.Prado Coelho,Cesário Verde é«Poeta-pintor(«Pinto quadros por letras,por sinais»),«...cantor do natural».
Eis,para mim,um dos seus mais belos poemas:

                                           De tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela;
E que,sem ter histórias nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu,descendo do burrico,
Foste colher,sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois,em cima duns penhascos,
Nós acampámos,inda o sol se via;
E houve talhadas de melão,damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas,todo púrpuro,a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

CESÁRIO VERDE(1855-1886)

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CONHECIMENTO

Gosto de conhecer mais e mais a vários níveis.Quando leio um livro,histórico ou descritivo,apetece-me deslocar até ao local onde tudo aconteceu.Como gosto de viajar,junto o útil ao agradável.

Outras pessoas,em tempos idos,resolveram divagar sobre o CONHECIMENTO.

«Aquele que se analisou a si mesmo,está deveras adiantado no CONHECIMENTO dos outros.»
                                                                                                                     DIDEROT

«CONHECER não é demonstrar nem explicar,é aceder à visão.»
                                                               SAINT-EXUPÉRY

«A cultura,sob todas as formas de arte,de amor e de pensamento,através dos séculos,capacitou o homem a ser menos escravizado.»
   ANDRÉ MALRAUX

«A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio CONHECIMENTO.»
                              PLATÃO

«Os nossos CONHECIMENTOS são a reunião do raciocínio e experiência de numerosas mentes.»
                                                                                                        RALPH EMERSON

«A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.»
                                                                                  PLATÃO

«O CONHECIMENTO é,em si mesmo,um poder.»
                                             FRANCIS BACON